Ela ainda
estava ali quando a porta do embarque fechou a sua frente. Segurando a caixinha
de bombons – seus preferidos – repetiu mais uma vez baixinho que um ano passa
rápido e que com esse não seria diferente.
Nunca havia
parado pra pensar se a profundidade de uma relação poderia ser medida pela
quantidade de tempo em que as pessoas passaram juntos, como começou a fazer
naquela hora. Na verdade, achava mesmo que a lógica de que tempo era sinônimo
segurança ou conhecimento era bem válida.
Só que o tempo
presente mostrava que não é chegado aos planos e ela, ainda ali no aeroporto,
sabia que jamais entenderia o fato de terem, em tão pouco tempo, se conhecido,
achado histórias em comum e criado uma cumplicidade esquisita, pra não dizer
amor.
- Mas um ano
vai passar rápido! – Repetiu mais uma vez. Dizem que uma mentira repetida 1.000
vezes, torna-se uma verdade.
365 dias era
tempo suficiente para que todas as pessoas do planeta comemorassem o
aniversário e que cada estação do ano tivesse democraticamente seu lugar no
céu. Resolveu sair da frente da porta de embarque. As coisas já estavam
difíceis demais pra permanecer no local onde viu pela última vez a imagem que
seu cérebro associaria a saudade.
Entrou no
carro, tirou as sandálias e ligou o painel. Iria tocar a vida, adiantar seus
estudos e a tecnologia daria conta de resolver o resto: estava segura do
sentimento recíproco e isso por um momento pareceu não só bastar, como ser
maior que todas as outras coisas. Ao olhar o retrovisor, viu o momento exato
que a aeronave decolava do solo, e não podendo deixar de lembrar tudo que tinha
acontecido, deu um sorriso de inverno, típico de setembro.
Ele já chegou
partindo e ela prometeu que não iria se apegar até a volta. Os 365 dias que os
separavam não poderiam ser mais longos que os 7.300* que tinham se passado até ali.
O tempo que parecia correr rápido demais sabia também ser amigo das horas. E
isso eles viram com os próprios olhos, naquele lugar onde os dias chegavam
rápido demais, mas foram testemunhas oculares que o destino os favoreceu quando
encontros e descobertas inusitados surgiram até o último instante possível.
- Somos tão
jovens e temos todo tempo do mundo, pensava aquela mulher madura, que nos
últimos 6 meses – os mais incríveis de sua vida – vivia a dizer isso para ele
ao mesmo tempo que sabia que isso não ia convencer ninguém, nem ela mesma . O
mais difícil já tinha acontecido: tinham se encontrado no meio de tantas
pessoas que fazem aniversário nesses 365 dias e o que os ligava era muito mais
que história.
Seguiu com o
carro, ouviu uma propaganda política que já tinham comentado e rido. Olhou para
caixinha de bombons no banco do carona, aquela que ele tinha lhe oferecido
quando estavam de frente para o mar, conversando e descobrindo vidas cruzadas
enquanto todo o resto decidia os rumos da turma. Sorriu. Olhou também para as
chaves da sala que ele tinha deixado em suas mãos e tomou consciência que ele
estaria presente nos pequenos detalhes. Em um sinal vermelho, viu a sua direita
aquele café onde tantas vezes se encontravam e olhavam o mar e a igreja,
fazendo planos. Pensou que seria mais difícil do que estava se convencendo. Ao
virar na próxima esquerda, vendo um letreiro luminoso não conseguindo mais
acelerar, se deu conta da briga estava acontecendo dentro de si, entre o
coração e o cérebro. Pensou que seria um bom período de amadurecimento conviver
com a saudade todos os dias, e que no final tudo entraria no seu devido lugar.
Sem mais, estacionou e pegou a bolsa. Olhou o letreiro luminoso mais uma vez,
mas entrou. Afinal, não custava parar e dar uma olhada nos preços das passagens
para Paris e a cotação do euro. Sabia, bem no fundo, que não conseguiria mais
viver os próximos 365 dias apenas com uma lembrança.
*365x20
Meu mundo ficaria completo (com você)
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