domingo, 23 de setembro de 2012

Os parceiros num rio bonito

                                                                 (O mar e a igreja)


Ela ainda estava ali quando a porta do embarque fechou a sua frente. Segurando a caixinha de bombons – seus preferidos – repetiu mais uma vez baixinho que um ano passa rápido e que com esse não seria diferente.
Nunca havia parado pra pensar se a profundidade de uma relação poderia ser medida pela quantidade de tempo em que as pessoas passaram juntos, como começou a fazer naquela hora. Na verdade, achava mesmo que a lógica de que tempo era sinônimo segurança ou conhecimento era bem válida.
Só que o tempo presente mostrava que não é chegado aos planos e ela, ainda ali no aeroporto, sabia que jamais entenderia o fato de terem, em tão pouco tempo, se conhecido, achado histórias em comum e criado uma cumplicidade esquisita, pra não dizer amor.
- Mas um ano vai passar rápido! – Repetiu mais uma vez. Dizem que uma mentira repetida 1.000 vezes, torna-se uma verdade.
365 dias era tempo suficiente para que todas as pessoas do planeta comemorassem o aniversário e que cada estação do ano tivesse democraticamente seu lugar no céu. Resolveu sair da frente da porta de embarque. As coisas já estavam difíceis demais pra permanecer no local onde viu pela última vez a imagem que seu cérebro associaria a saudade.
Entrou no carro, tirou as sandálias e ligou o painel. Iria tocar a vida, adiantar seus estudos e a tecnologia daria conta de resolver o resto: estava segura do sentimento recíproco e isso por um momento pareceu não só bastar, como ser maior que todas as outras coisas. Ao olhar o retrovisor, viu o momento exato que a aeronave decolava do solo, e não podendo deixar de lembrar tudo que tinha acontecido, deu um sorriso de inverno, típico de setembro.
Ele já chegou partindo e ela prometeu que não iria se apegar até a volta. Os 365 dias que os separavam não poderiam ser mais longos que os 7.300* que tinham se passado até ali. O tempo que parecia correr rápido demais sabia também ser amigo das horas. E isso eles viram com os próprios olhos, naquele lugar onde os dias chegavam rápido demais, mas foram testemunhas oculares que o destino os favoreceu quando encontros e descobertas inusitados surgiram até o último instante possível.
- Somos tão jovens e temos todo tempo do mundo, pensava aquela mulher madura, que nos últimos 6 meses – os mais incríveis de sua vida – vivia a dizer isso para ele ao mesmo tempo que sabia que isso não ia convencer ninguém, nem ela mesma . O mais difícil já tinha acontecido: tinham se encontrado no meio de tantas pessoas que fazem aniversário nesses 365 dias e o que os ligava era muito mais que história.
Seguiu com o carro, ouviu uma propaganda política que já tinham comentado e rido. Olhou para caixinha de bombons no banco do carona, aquela que ele tinha lhe oferecido quando estavam de frente para o mar, conversando e descobrindo vidas cruzadas enquanto todo o resto decidia os rumos da turma. Sorriu. Olhou também para as chaves da sala que ele tinha deixado em suas mãos e tomou consciência que ele estaria presente nos pequenos detalhes. Em um sinal vermelho, viu a sua direita aquele café onde tantas vezes se encontravam e olhavam o mar e a igreja, fazendo planos. Pensou que seria mais difícil do que estava se convencendo. Ao virar na próxima esquerda, vendo um letreiro luminoso não conseguindo mais acelerar, se deu conta da briga estava acontecendo dentro de si, entre o coração e o cérebro. Pensou que seria um bom período de amadurecimento conviver com a saudade todos os dias, e que no final tudo entraria no seu devido lugar. Sem mais, estacionou e pegou a bolsa. Olhou o letreiro luminoso mais uma vez, mas entrou. Afinal, não custava parar e dar uma olhada nos preços das passagens para Paris e a cotação do euro. Sabia, bem no fundo, que não conseguiria mais viver os próximos 365 dias apenas com uma lembrança. 
*365x20
                                     Meu mundo ficaria completo (com você)

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