terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Morares

domingo, 23 de setembro de 2012

Os parceiros num rio bonito

                                                                 (O mar e a igreja)


Ela ainda estava ali quando a porta do embarque fechou a sua frente. Segurando a caixinha de bombons – seus preferidos – repetiu mais uma vez baixinho que um ano passa rápido e que com esse não seria diferente.
Nunca havia parado pra pensar se a profundidade de uma relação poderia ser medida pela quantidade de tempo em que as pessoas passaram juntos, como começou a fazer naquela hora. Na verdade, achava mesmo que a lógica de que tempo era sinônimo segurança ou conhecimento era bem válida.
Só que o tempo presente mostrava que não é chegado aos planos e ela, ainda ali no aeroporto, sabia que jamais entenderia o fato de terem, em tão pouco tempo, se conhecido, achado histórias em comum e criado uma cumplicidade esquisita, pra não dizer amor.
- Mas um ano vai passar rápido! – Repetiu mais uma vez. Dizem que uma mentira repetida 1.000 vezes, torna-se uma verdade.
365 dias era tempo suficiente para que todas as pessoas do planeta comemorassem o aniversário e que cada estação do ano tivesse democraticamente seu lugar no céu. Resolveu sair da frente da porta de embarque. As coisas já estavam difíceis demais pra permanecer no local onde viu pela última vez a imagem que seu cérebro associaria a saudade.
Entrou no carro, tirou as sandálias e ligou o painel. Iria tocar a vida, adiantar seus estudos e a tecnologia daria conta de resolver o resto: estava segura do sentimento recíproco e isso por um momento pareceu não só bastar, como ser maior que todas as outras coisas. Ao olhar o retrovisor, viu o momento exato que a aeronave decolava do solo, e não podendo deixar de lembrar tudo que tinha acontecido, deu um sorriso de inverno, típico de setembro.
Ele já chegou partindo e ela prometeu que não iria se apegar até a volta. Os 365 dias que os separavam não poderiam ser mais longos que os 7.300* que tinham se passado até ali. O tempo que parecia correr rápido demais sabia também ser amigo das horas. E isso eles viram com os próprios olhos, naquele lugar onde os dias chegavam rápido demais, mas foram testemunhas oculares que o destino os favoreceu quando encontros e descobertas inusitados surgiram até o último instante possível.
- Somos tão jovens e temos todo tempo do mundo, pensava aquela mulher madura, que nos últimos 6 meses – os mais incríveis de sua vida – vivia a dizer isso para ele ao mesmo tempo que sabia que isso não ia convencer ninguém, nem ela mesma . O mais difícil já tinha acontecido: tinham se encontrado no meio de tantas pessoas que fazem aniversário nesses 365 dias e o que os ligava era muito mais que história.
Seguiu com o carro, ouviu uma propaganda política que já tinham comentado e rido. Olhou para caixinha de bombons no banco do carona, aquela que ele tinha lhe oferecido quando estavam de frente para o mar, conversando e descobrindo vidas cruzadas enquanto todo o resto decidia os rumos da turma. Sorriu. Olhou também para as chaves da sala que ele tinha deixado em suas mãos e tomou consciência que ele estaria presente nos pequenos detalhes. Em um sinal vermelho, viu a sua direita aquele café onde tantas vezes se encontravam e olhavam o mar e a igreja, fazendo planos. Pensou que seria mais difícil do que estava se convencendo. Ao virar na próxima esquerda, vendo um letreiro luminoso não conseguindo mais acelerar, se deu conta da briga estava acontecendo dentro de si, entre o coração e o cérebro. Pensou que seria um bom período de amadurecimento conviver com a saudade todos os dias, e que no final tudo entraria no seu devido lugar. Sem mais, estacionou e pegou a bolsa. Olhou o letreiro luminoso mais uma vez, mas entrou. Afinal, não custava parar e dar uma olhada nos preços das passagens para Paris e a cotação do euro. Sabia, bem no fundo, que não conseguiria mais viver os próximos 365 dias apenas com uma lembrança. 
*365x20
                                     Meu mundo ficaria completo (com você)

domingo, 11 de setembro de 2011

Carta Extraviada 4

Sou mais um desses boçais que escreve tudo aquilo que deveria ser falado, e você é mais uma vítma que jamais vai ter atendido o seu desejo: saber. Mesmo consciente de sua boa vontade de me ouvir e entender, lhe escrevo, não posso ir além, não peça para remeter-me, esta carta não é para chegar, é uma carta de ficar.
Para mim e para você, escrevo que, daqui de onde me encontro, você está longe e perto, e eu estou sozinho e não. Do que sinto, aviso que é forte mas não é perigoso, é como um grande lago sereno, eu sou o píer, quase me precipito, você é todo resto, toda água, tudo que há. Mas somos dois e em vez de par, somos ímpares. Estou possuído por você e ao mesmo tempo permaneço impermeável, amo a seco, e rendido.
Você não me acharia covarde, você não me acharia nada: você não me conhece. Sou um vulto, um alguém , você foi gentil comigo como é com os garçons e os primos, com os pedestres e com os turistas, você foi o que sempre foi, e eu não fui com você: no terceiro minuto ao seu lado eu já sabia que era irremediável, e em vez de segurar sua mão e reverter-lhe a pressa, deixei que você fosse e eu fiquei.
Os dias, os gestos, rituais cotidianos, surpresas, tudo corre, tudo passa por mim, menos o susto deste amor que entranhou-se feito limo, umidade em peito árido, me sinto tomado, absorvido, e não encontro método ou coragem para dizer: você que é motivo e dona desta represa, fique comigo, pois é só o que eu sei fazer, ficar.
Mas você é ligeira, em movimento constante, você não senta, não rapara, quer vida demais, sedenta, me fisgou muito rápido, e eu sou lento, estudado, incapaz de um repente, apaixonado por uma mulher impaciente, que suplica com o olhar e não espera, você se foi, em frente, quando deveria ter ficado.
Você não me conhece, não houve tempo. Seu olhar me autorizava o flerte, se eu lhe acompanhasse, rogaria por um beijo, e de mãos dadas o nosso caminho haveria de ser compartilhado. Mas eu sou mais um desses boçais que não falam, que pensam demais antes do proximo passo, e você é mais uma vítima de um amor não consumado.

Martha Medeiros

- Pra Ana Clara e Lucas que sabem o que é exatamente isso.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

(credito da foto pra mim :)

Ali, sentada vendo um sol que se despedia cor-de-laranja, olhava pro lado inquieta e só esperava encontrar uma coisa. Estiveram ali juntos, um pouco mais tarde, com um sol já preto e branco, mas a experiencia que tiveram em voar, havia sido singular.
Mais do que tudo, precisava sentir aqueele olhar mais uma vez.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

àqueles que são o meu sorriso



"Hoje, me fala de você. Dos momentos em que a vida lhe doeu tanto que você achou que não iria aguentar. Fala das músicas que compõem a sua trilha sonora. Dos poemas que você poderia ter escrito, de tanto que traduzem a sua alma. Senta perto de mim e mesmo que estejamos rodeados por buzinas, gente apressada, perigos iminentes...faz de conta que a gente está conversando no quintal de casa, descascando uma laranja, os pés descalços, sem nenhum compromisso chato à nossa espera.
Hoje, se quiser, se puder, se souber, me fala de você. Da essência vestida com essa roupa de gente com a qual você se apresenta. Fala dos seus amores, tanto faz se estão perto do seu corpo ou somente do seu coração. Fala sobre as coisas que costumam fazer você sintonizar a frequência do seu riso mais gostoso. Fala sobre os sonhos que mantêm o frescor, por mais antigos que sejam...
Fala a partir daquilo em você que não desaprendeu o caminho das delícias. Do pedaço de doçura que não foi maculado. Da porção amorosa que saiu ilesa à própria indelicadeza e à alheia. A partir daquilo em você que continuou a acreditar na ternura, a se encantar e a se desprevenir, apesar de tantos apesares. Conta sobre as receitas que lhe dão água na boca.
Sobre o que gosta de fazer para se divertir. Conta se você reza antes de adormecer.
Fala da lua que você admirou outra noite dessas, no céu. Da borboleta que lhe chamou à atenção por tanta beleza, abraçada a alguma flor, como se existisse apenas aquele abraço. Diz se quando você acorda ainda ouve passarinhos, mesmo que não possa identificar de onde vem o canto. Diz se a sua mãe cantava para fazer você dormir.
Senta perto e me conta o que você sentiu quando viu o mar pela primeira vez e o que sente quando olha pra ele, tantas vezes depois. Se tinha jardim na casa da sua infância, me diz que flores riam por lá. Conta há quanto tempo não vê uma joaninha. Se tinha algum apelido na escola. Se consegue se imaginar bem velhinho.Das pessoas que não têm o seu sobrenome, mas são familiares pra sua alma."

Ana Jácomo


- Pra vocês, que são os únicos donos do meu sorriso azul-cor-de-mar, o qual eu não saberia viver sem ♥

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Hoje de manhã eu acordei e fiquei olhando para tudo catatônica, um misto de susto com deslumbramento. Me dei conta de que essa é a pior e a melhor fase da minha vida. Eu nunca andei tão triste e nem tão feliz. Foi difícil enterrar tantos mortos e tantas rotinas, mas está sendo muito fácil viver dentro de mim."

(Tati Bernardi)

sexta-feira, 4 de março de 2011

"Mas as coisas findas...



... muito mais que lindas,essas ficarão"


C. Drummond